Federações partidárias: união forçada que pode virar armadilha eleitoral.
- Addison Viana
- 19 de jun.
- 2 min de leitura

Criadas com o propósito de fortalecer partidos menores e garantir maior estabilidade política ao sistema proporcional brasileiro, as federações partidárias vêm ganhando espaço nas negociações pré-eleitorais. No entanto, o que se observa na prática é que, em muitos casos, essas alianças formais — que obrigam os partidos a atuarem juntos por pelo menos quatro anos — têm sido usadas como instrumento para desarticular candidaturas e manobrar projetos de poder.
A lógica inicial da federação era permitir que siglas com pouca força sozinhas pudessem se unir de forma programática e duradoura, consolidando bancadas mais expressivas no Congresso e nas Assembleias, sem recorrer à antiga figura das coligações proporcionais, que funcionavam como alianças de ocasião. Mas a realidade se impõe de forma mais dura e pragmática.
Na maior parte das vezes, as federações vêm sendo usadas como ferramentas de controle interno, não raramente com o objetivo de forçar apoios, inviabilizar adversários internos e desequilibrar disputas eleitorais antes mesmo de elas começarem.
Um exemplo emblemático é a possível federação entre MDB e Republicanos, que está em discussão e pode afetar diretamente o cenário político do Espírito Santo. Ambos os partidos têm pré-candidatos competitivos ao Governo do Estado: o atual vice-governador Ricardo Ferraço, pelo MDB, e o prefeito de Vitória Lorenzo Pazolini, pelo Republicanos.
Se a federação se concretizar, a regra é clara: os dois partidos passam a ter uma candidatura única ao governo — ou seja, ou Ferraço ou Pazolini. O outro terá que abrir mão da disputa, se submeter à decisão interna da federação ou, no limite, deixar o partido caso queira manter sua pré-candidatura. Uma situação que, além de provocar crises internas, pode desorganizar estratégias eleitorais já em andamento.
Nesse tipo de cenário, o que se tem, na prática, não é uma união de ideias, mas um cerco político. Em vez de fortalecer a democracia, a federação passa a ser usada como instrumento de veto ou de imposição verticalizada, retirando da base partidária e até do eleitorado a chance de escolha.
É o caso, por exemplo, se os diretórios nacionais de MDB e Republicanos decidirem que a candidatura ao governo deve ser de Ferraço. Pazolini, que tem capital político crescente, visibilidade estadual e apoio consolidado na capital, teria que recuar ou mudar de partido. E o inverso também vale. Nesse jogo de forças, quem perde é a pluralidade — e o eleitor.
Não se trata aqui de negar o valor das federações enquanto mecanismo legal. Elas podem ter utilidade estratégica e até ajudar na governabilidade. Mas é preciso reconhecer o uso distorcido que está sendo feito delas, sobretudo em estados e municípios onde as siglas envolvidas têm interesses conflitantes.
Federações partidárias deveriam nascer de afinidade política, programa comum e compromisso com um projeto duradouro. Infelizmente, o que se vê é que estão sendo costuradas com base em cálculos frios, com objetivos muitas vezes pouco republicanos: isolar candidaturas fortes, enfraquecer adversários internos ou garantir controle sobre palanques regionais.
No caso do Espírito Santo, se a federação MDB-Republicanos avançar, o eleitor poderá ser privado de ver dois nomes competitivos e experientes na disputa. E isso não fortalece a democracia — sufoca.
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