Santa Teresa: o berço da imigração italiana que virou capital do ecoturismo capixaba.
- Addison Viana
- 6 de jul.
- 3 min de leitura
Com mais de 140 anos de história, cidade é referência em natureza, cultura, gastronomia e preservação da memória italiana no Espírito Santo

Por Addison Viana
Aninhada nas montanhas do Espírito Santo, a cerca de 78 quilômetros de Vitória, está Santa Teresa – uma cidade que é puro charme, história viva e natureza pulsante. Reconhecida como a primeira colônia de imigração italiana do Brasil, ela também se destaca como um dos principais destinos de ecoturismo e agroturismo do país, mantendo com orgulho suas raízes e tradições.
A travessia da esperança
Tudo começou no dia 17 de fevereiro de 1874, quando o navio La Sofia atracou no porto de Vitória com 388 imigrantes italianos, em sua maioria do Trentino-Alto Ádige, então parte do Império Austro-Húngaro. Alguns dias depois, um grupo partiu rumo às montanhas, onde nasceria o Núcleo Timbuí, embrião da atual Santa Teresa.

A fundação oficial da colônia foi registrada em 26 de junho de 1875, com a distribuição dos lotes de terra aos colonos — data que hoje é comemorada com feriado municipal, muita música italiana, desfiles, vinho e emoção.
“Ela tem uma memória, cheiros, sentidos, como se vivesse aqui uma parte da história do povo que iniciou essa colonização em Santa Teresa”, contou em um depoimento Célio Perini, curador da histórica Casa Lambert, uma das primeiras residências da cidade, construída em 1875 e preservada como patrimônio vivo.
Da colônia à vila emancipada
Com o crescimento da comunidade, Santa Teresa foi emancipada politicamente em 22 de fevereiro de 1891, tornando-se vila e ganhando seu primeiro Conselho Municipal, formado por imigrantes e filhos de imigrantes. Em 1892, criou um rígido Código de Posturas, que previa punições para quem “andasse sem propósito pelas ruas após as dez da noite” ou não limpasse as calçadas – um reflexo dos valores europeus de disciplina e organização que moldaram o município.
A natureza como legado

Outro filho ilustre da terra é o naturalista Augusto Ruschi (foto-reprodução) (1915–1986), cientista renomado, defensor ferrenho da Mata Atlântica e especialista em beija-flores. Em 1949, ele criou o Museu de Biologia Prof. Mello Leitão — atual Instituto Nacional da Mata Atlântica (INMA) —, que até hoje preserva espécies raras, promove educação ambiental e recebe pesquisadores de todo o Brasil.
“Meu pai merece ser conhecido pelas futuras gerações de forma plena… O Memorial Augusto Ruschi faz justiça à sua honra.”, disse seu filho, o biólogo Piero A. Ruschi, ao inaugurar um espaço digital dedicado à memória do cientista.

Graças a esse legado, Santa Teresa se transformou na capital capixaba da observação de aves (birdwatching). São mais de 500 espécies catalogadas, muitas delas raras e endêmicas, como o soldadinho-do-araripe (foto reprodução). A cidade também abriga trilhas, mirantes, cachoeiras como o Véu de Noiva, e o imponente Pico do Garrafão.
Tradição que alimenta
Santa Teresa é também sinônimo de boa mesa. O município preserva com orgulho a gastronomia italiana, com destaque para massas frescas, polentas, linguiças artesanais, vinhos e doces caseiros. A Rota do Agroturismo atrai visitantes do Brasil inteiro, oferecendo experiências em vinícolas, sítios de café especial, fábricas de mel, queijarias e ateliês rurais.

“São dez dias de cultura, tradição e alegria que contam a saga de um povo sofrido, mas festeiro, que trouxe disposição às montanhas capixabas”, resume uma nota oficial da Câmara Municipal, ao anunciar a Festa do Imigrante Italiano, realizada todo mês de junho.
Outro destaque é a Carretela del Vin, desfile folclórico regado a vinho e música, que celebra as colheitas e a resistência cultural dos teresenses.
Uma cidade que emociona
O visitante que chega a Santa Teresa logo percebe: não é só um destino turístico — é um mergulho em uma identidade única. Os casarões coloniais, o clima serrano que chega a menos de 10 °C no inverno, a paisagem verdejante da Mata Atlântica e o orgulho de um povo trabalhador formam uma combinação que encanta.

A cidade conseguiu algo raro: preservar o passado sem abrir mão do futuro. Seja pelos museus, pelas festas, pela natureza ou pelas mesas fartas, Santa Teresa segue sendo um símbolo de acolhimento, beleza e memória.
Serviço:
📍 Como chegar: A partir de Vitória, são cerca de 78 km pela BR-101 e ES-080
🌿 O que fazer: Trilha do Garrafão, INMA, Museu da Imigração, Casa Lambert, festas tradicionais, roteiros de vinho e agroturismo
🍷 Quando ir: Junho (Festa do Imigrante), julho (Carretela del Vin), ou o ano todo para curtir o frio e a gastronomia
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